O meu nome agora é Maria...

Entrei no metro às seis e sentei-me e comecei a jogar Candy Crush. Na estação a seguir entram três rapazes, negros, e um dá um grande grito, e eles riem-se e as pessoas enfiam a cara no chão e nos jornais e livros e telemóveis. Ao meu lado ia uma miúda magrinha , de cor, com o cabelo todo puxado e preso atrás , ar simples, mas bonita. O líder deles, de gorro cinzento e calções a cair decidiu sentar-se à frente dela. Olá. Ela nada. Tocou-lhe na perna “ Olá, chamaste Jalima ? “ ela riu-se e nada. Ele puxou do telemóvel e começou a ver. Eu a jogar . “ Não me dizes o teu nome ? “, “ eu não tenho nome “ disse ela. “ Ah, e tens namorado ? “, ela nada . “ Tens que idade ? “, “ Dezoito “, respondeu ela. Eu pensei que parecia ter dezasseis. “ E não tens namorado ? Queres ser minha namorada ? “ ela sorriu e olhou pela janela. Ele era bonito, alto e com caracois a sairem da boina de lã. “ Não respondes ? “ e eu toda interessada. Aí reparo que a estação é Baixa-Chiado. Ai ! Deixei passar S. Se

Andei a tirar as coisas do quarto em casa da minha mãe, vamos alugar a uma colega minha. Atirei fora imensos bilhetes de telefone que coleccionei ao longo dos anos, era assim, não havia telemóveis, dava -se o telefone . Trouxe brinquedos e algumas cartas, não resisto a publicar partes desta do meu namorado, que me partiu o coração, duas vezes. Da primeira só rachou. Eu tinha 20 anos e estava no Vale, na minha avó. " Ibiza, 30 de Agosto de 1983   (um pouco de imaginação nunca fez mal a ninguém) (...) Amanhã lá vou ter de começar a estudar, vão ser 15 dias de merda. Vou ver se cravo a minha mãe para levar esta missiva ( isto é que é nível, hem ?) até aos correios amanhã. Bem, vou-te contar o que fiz hoje, às 9 h entrou o meu pai por aqui adentro ( não é palavra nenhuma, pois não ? ) a dizer que eu era um preguiçoso e que não fazia nenhum ( aquele homem às vezes é mesmo perspicaz)  e que era um madraço; eu fiz-lhe a vontade e: levantei-me, lavei a cara, fui tomar o pequeno almo

No sábado, estava mesmo deprimida, era dia do pai e na TV estavam só com anúncios sobre o pai, e eu comecei a lembrar-me de quando era pequena e andava sempre de mão dada com ele na rua, e iamos comprar o jornal e eu trazia sempre Pato Donalds (BD da disney) ou um carrinho da Lego para montar. E como lhe saltava ao pescoço quando ele chegava a casa. E como lhe disse que ele tinha de pintar o cabelo, estava a ficar cheio de cabelos brancos. Quando eu nasci, ele tinha uns 37, já tinham a minha irmã de cinco anos e meio. Ela foi para a escola e a minha mãe ficou com uma nova criança para educar. Acho que a minha mãe gostava de ser dona de casa com empregadas e brincar comigo, em criança. Mas lembro.me de brincar muito sozinha. Quando andei no Colégio era das 9h às 5 h e era sempre o meu pai que me is buscar, vindo do seu emprego do Estado. Depois penso que criou uma empresa de engenharia civil com uns colegas e ainda ia para lá. Claro que nunca passou pela cabeça da minha mãe ir buscar-me

Já aqui escrevi sobre o meu trabalho e é num call center e eu nunca me passara na cabeça responder a um, ou seja respondi e depois marcaram-me uma entrevista e não fui. Fui parva porque era se calhar para o mesmo que estou a fazer, área de turismo, outbound, falar e escrever francês e inglês. Aqui onde estou, a companhia é estrangeira e a sede é em Amsterdam e têm estes escritórios em vários países, imagino que países que aceitem ordenados mínimos e horas extraordinárias.  OK, estou a gozar, como são línguas estrangeiras eles pagam dois ordenados mínimos (incluindo cartão de refeições), 13 mês, 22 dias de férias, subsídio de férias. Isto é  renovado mensalmente, ou seja, avisam com antecedência se nos querem por fora.  Mas a questão é que gastam muito tempo em formação, passamos um mês nisso, trabalhar no programa deles não é assim tão fácil. E também não é fácil arranjar quem fale e escreva corretamente em francês e alemão. Daí eu e outra sermos as únicas portuguesas e licenciad

Estive a ver um programa que me impressionou. Era um programa sobre tortura animal, em que homens e mulheres se exibiam sangrando feras inocentes. O mais estranho é que, naquele país, é uma tradição antiga que continua a atrair muitos espectadores ao recinto onde tais actos de brutalidade se executam. Bilhetes pagos a peso de ouro, mas sem peso na consciência. O país era o nosso, e a tradição parece que se chama tourada. Tudo isto num canal de nome saído de uma capa de filme pornográfico, Festa Brava. A julgar pela quantidade de palhaços nas bancadas, pode-se considerar um circo, e eu a pensar que circos com animais já não eram permitidos . Gostava, então, de deixar aqui os dez argumentos a favor da tourada. «A tourada é tradição e cultura.» É uma actividade que remonta ao século XII, altura em que a maioria das pessoas não sabia ler nem escrever, em que a consciência humana e social era quase nula e ainda se cagava em penicos. Por si só, este argumento é parvo, já que os colise

Acordei cedissimo , sete horas, pois um gato estava a miar , e afinal era porque tinha ficado fechado na sala. Eu fecho para não irem lá arranhar, ou atirar coisas ao chão. Tive de lhes dar de comer e agora, claro que não tenho sono. Adormeci à meia noite, ontem. Hoje é dia do pai e o meu já morreu há bastantes anos. Eu tinha 28 e dava aulas em Cascais, e ele estava reformado e cada vez mais deprimido desde que se reformara e a minha avó morrera. A minha mãe fora-se deitar co m a depressão e ele deu-me um papel assinado por ele com uma conta da Caixa, e disse que era o dinheiro que me faltava para eu comprar a casa. Eu tinha visto casas em Carcavelos mas pediam mais do que eu tinha na conta, e ele me pusera lá quando dera a casa à minha irmã. Mas com o passar dos anos, a inflação já não me permitia chegar lá. Isto foi ao almoço e eu ia ter com o Pedro, um namorado de que o meu pai gostava, era engenheiro. O meu pai disse para eu ir já ao banco fazer a transferência para a minha conta.

Tive de ir às 8 h da manhã marcar consulta para hoje, quando não se tem médico de família é assim. E fica-se com quem tiver vaga. se eu quisesse o Dr. Alemão, marcava para daqui a um mês, ou quando ele tivesse vaga. Acho que fui precipitada ao dizer que o centro de saúde, que agora se chama não sei quê ( cuidados de proximidade ? ) agora é perfeitamente normal, já não há gente de bairro de lata a insultar as funcionárias, Hoje chegou lá um casal, pai e filha, acho, em que ela se deslocou logo para os consultórios a perguntar se a médica lá estava que tinha pressa que ainda ia fazer uma radiografia. O segurança foi a correr atrás dela e levou-a para o balcão, onde ela fez a mesma pergunta e disseram que sim, que era esperar que chamasse, infelizmente ao meu lado.Cheirava tão mal, que uma rapariga se levantou e foi para outro lado e depois espirrou e eu ia morrendo, não sei se me protegi a tempo. Mas conseguiu entrar antes de mim, que era a primeira. e saiu pouco de+pois com a rece

Acordei cedo, aliás passei a noite a acordar. Não foram os gatos, estavam fechados na cozinha. Encontraram aquele barco da frota do Vasco da Gama, que ia para a Índia. Quinhentos anos, e já andavam ali em busca de rotas de comércio e a descobrir novas terras ( para eles ). Uns barcos de madeira, com velas, meses no mar. Aquele naufragou, numa tempestade. Agora estão a descobrir artefactos. Deviam ser nossos , os artefactos, mas ficam para a empresa de descobertas que o encontrou. Também, temos aí um Museu da Marinha cheia de coisas. E morreu o actor Nicolau Breyner, com 75 anos. Andava um bocado magro, mas foi ataque de coração. Ele antes era gordo e gostava de comer queijos e enchidos de Serpa. Hoje vai ser o funeral, ontem foram à Igreja imensas pessoas, primeiro ministro ( anda sempre de sorriso na cara, aquele ) e o novo Presidente da República , o simpático Marcelo Rebelo de Sousa. Que é a favor das touradas e da caça e essas coisas todas que eu sou contra, é todo queque, mas