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A mostrar mensagens de junho, 2013

Ruth Rendell - A Árvore da Malária (cont.)

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Ficou em silêncio, a pensar nisso. O carro dos guardas seguiu-os até ao acampamento. O céu estava nublado e amarelo, com o entardecer. Ele tencionava deixá-la na selva, voltar para o acampamento sem ela, ver a escuridão abater-se, sabendo que ela estava lá, sem dizer uma palavra a ninguém, e quem notaria a sua ausência? Ele não iria ao restaurante e no dia seguinte sairia cedo , não era preciso fazer ckeck out, estava tudo pago. O crime perfeito. Se encontrassem os ossos estariam rasgados pelas hienas e chacais e aves de rapina. Ele voltaria para casa e para Margarida. Nessa noite ele foi mais simpático com ela. Pediu champanhe e outros pratos caros da ementa. Estaria com medo que ela tivesse percebido o que estivera para acontecer, horas atrás ? Ela quase não comeu. Nunca mais estaria em segurança com ele. Quem sabe se fora a primeira vez ? E se ele tivesse substituído os comprimidos de quinino por aspirina ? Se a tentasse afogar na banheira ? Só estaria em segurança se o deixa

A árvore da malária

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Onde existe malária, existe a árvore da malária. Fernando reconheceu-a imediatamente, embora não soubesse o seu nome científico, à entrada da cabana da recepção do campo. Depois de dar os seus nomes, no hotel no meio da reserva, abriram a cancela para o carro entrar. Fernando pensou como seria, se  ao voltar a cabeça visse Margarida ao lado dele, em vez de Teresa,  a sua mulher. A inteligente e morena Margarida, em vez da sua loura , gorda esposa, que nesse momento lançava gritinhos de alegria e fazia perguntas infantis numa voz aguda e patética. " A minha mulher deseja saber o tamanho da reserva de Ntsukunyane " perguntou ele ao empregado de fato khaki. "Cerca de quatro milhões de acres ", respondeu o africano. " Acha que veremos leopardos ? " " Quem sabe ", respondeu ele, " são animais nocturnos, é preciso sorte. Mas verão leões, elefantes, hipopótamos.... Não se esqueçam que têm de estar de volta às seis horas, antes de anoitecer e fec

Santos populares em Lisboa

Não gosto dos santos, populares ou não. É preciso ter uma paciência de santo , daquele que foram martirizados, para ir aos santos populares. " Se faz favor, podem virar-me, deste lado já estou assado " disse um deles, já não me lembro qual. O cheiro a sardinha assada, vinho tinto, cerveja, farturas, vomitado, está por todo lado, junto com o fumo e a pessoas. A música popular a falar de bacalhaus também, e andar, quanto mais dançar, naquele piso, é impossível, só de ténis. que devem ser velhos, pois estão sempre a pisar-nos. De sardinhas gosto, mas não consigo comê-las no pão. Caem, têm de se agarrar, ficamos a cheirar a sardinhas três dias, e eu, engulo umas espinhas e espeto-as na garganta, passo a noite a tossir. A única forma de andar por ali nos santos, é ir abraçada ao amor da nossa vida. Só assim, eu faço o sacrifício. E ele dá-me sardinhas sem espinhas e impede-me de cair. Este ano não fui. Nem o ano passado. Talvez para o ano. Vou rezar aos santos ?

Fechada na rua

Ai, hoje aconteceu o que eu já temia desde que me mudei para aqui...sai de casa e deixei a chave por dentro da porta. Eu e a filha do lado de fora e eu " e a chave ? tens chave ? ". " Não ". Ela tem uma mas nunca anda com ela. Tentei meter um cartão pois ela estava no trinco, mas claro , não consegui. Comecei a lembrar-me daquela vez na outra casa em que eu e o ex fizemos o mesmo e tivemos de ir dormir à minha mãe, e no dia seguinte fomos ao homem que nos tinha posto a fechadura, e ele não quis ir abrir, disse que já tinha arranjado problemas com isso, ex maridos a quererem tirar coisas das casas, etc. Acabámos por chamar as chaves do areeiro, que nos levaram um dinheirão.... Bem, mas aqui é um bairro diferente. Fui ali à loja do centro, que por acaso até me põs a tranca na porta, e disse que deixara as chaves dentro de casa. Ela ligou logo à equipa do Gordo e do Estica ( os que vêm cá arranjar o lavatório entupido ) e quando aqui chegámos já cá estavam. Subimos c