Ode ao gato
 Ode ao gato    Os animais foram   imperfeitos,   compridos de rabo, tristes   de cabeça.   Pouco a pouco se foram   compondo,   fazendo-se paisagem,   adquirindo pintas, graça, vôo.   O gato,   só o gato   apareceu completo   e orgulhoso:   nasceu completamente terminado,   anda sozinho e sabe o que quer.   O homem quer ser peixe e pássaro   a serpente quisera ter asas,   o cachorro é um leão desorientado,   o engenheiro quer ser poeta,   a mosca estuda para andorinha,   o poeta trata de imitar a mosca,   mas o gato   quer ser só gato   e todo gato é gato   do bigode ao rabo,   do pressentimento à ratazana viva,   da noite até os seus olhos de ouro.    Não há unidade   como ele,   não tem   a lua nem a flor   tal contextura:   é uma coisa só   como o sol ou o topázio,   e a elástica linha em seu contorno   firme e...