Recordar o passado em Lisboa
Já estava em casa há uma semana e a rotina diária, estava a perturbá-la. Não era uma pessoa de rotinas.
O seu primeiro emprego fora professora, mas passado o perturbado primeiro ano de ensino, fora como andar de bicicleta. Durante dois anos a leccionar os mesmos anos, deu por si a recitar de cor as primeiras estrofes dos Lusiadas, as falas do Auto da barca do Inferno, os recursos de estilo. Com 25 anos e toda uma vida passada nos bancos das escolas....por isso respondera aquele anúncio de Assistente de Bordo.
E sim, Sara era hospedeira do ar, na verdade, chefe de cabina nas rotas de longo curso. Para ela, viajar não era problema.
Sentada numa esplanada exterior, enquanto olhava as gaivotas que atacavam as batatas fritas da comida rápida que lhes lançavam, começou a relembrar como tudo começara. O caminho que a levara até ele.
Aquele dia em que, estava ainda há pouco tempo a trabalhar no aeroporto, vigiava a chegada das bagagens, do último vôo da noite, e vira chegar a tripulação, arrastando os seus pequenos trolleys. Primeiro o comandante e os seus co-pilotos, depois a tripulação do ar, duas assistentes mais velhas e dois comissários jovens. Nenhum deles a olhara, nem sequer de passagem, elegantes nas suas fardas azuis e cinzentas. Excepto ele, que lhe sorrira com os seus olhos castanho esverdeados, ar magro e olheiras fundas, cabelo curto e preto. Ela não lhe sorrira. Sentia-se ressentida de ter sido escolhida para Assistente de tráfego de passageiros e não assistente do ar. Por usar óculos e lentes de contacto, tinha sido recusada nas provas médicas, constituía um risco em caso de acidente, como se no caos de um acidente de avião as lentes fossem importantes. Ofereceram-lhe o check-in e acompanhamento de passageiros e aceitara.
E no entanto aqui estava hoje, dez anos depois, voando para os quatro cantos do mundo. Mas sem ele.
O seu primeiro emprego fora professora, mas passado o perturbado primeiro ano de ensino, fora como andar de bicicleta. Durante dois anos a leccionar os mesmos anos, deu por si a recitar de cor as primeiras estrofes dos Lusiadas, as falas do Auto da barca do Inferno, os recursos de estilo. Com 25 anos e toda uma vida passada nos bancos das escolas....por isso respondera aquele anúncio de Assistente de Bordo.
E sim, Sara era hospedeira do ar, na verdade, chefe de cabina nas rotas de longo curso. Para ela, viajar não era problema.
Sentada numa esplanada exterior, enquanto olhava as gaivotas que atacavam as batatas fritas da comida rápida que lhes lançavam, começou a relembrar como tudo começara. O caminho que a levara até ele.
Aquele dia em que, estava ainda há pouco tempo a trabalhar no aeroporto, vigiava a chegada das bagagens, do último vôo da noite, e vira chegar a tripulação, arrastando os seus pequenos trolleys. Primeiro o comandante e os seus co-pilotos, depois a tripulação do ar, duas assistentes mais velhas e dois comissários jovens. Nenhum deles a olhara, nem sequer de passagem, elegantes nas suas fardas azuis e cinzentas. Excepto ele, que lhe sorrira com os seus olhos castanho esverdeados, ar magro e olheiras fundas, cabelo curto e preto. Ela não lhe sorrira. Sentia-se ressentida de ter sido escolhida para Assistente de tráfego de passageiros e não assistente do ar. Por usar óculos e lentes de contacto, tinha sido recusada nas provas médicas, constituía um risco em caso de acidente, como se no caos de um acidente de avião as lentes fossem importantes. Ofereceram-lhe o check-in e acompanhamento de passageiros e aceitara.
E no entanto aqui estava hoje, dez anos depois, voando para os quatro cantos do mundo. Mas sem ele.
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