Ansiando por partir

Depois de alimentar o gato e comer algo, decidiu sair. A casa estava muito silenciosa desde que ele partira, de súbito, naquele dia, há tanto tempo e no entanto tão pouco. Vestiu uma larga gabardina sobre a roupa, apesar de não tencionar passear na chuva persistente, e desceu os dez andares até à garagem. Ali estava o seu carro, escuro e fiel, com o seu cheiro característico e ainda um ligeiro odor a ele. Como ele gostava de o conduzir, com a sua impaciência e mudanças bruscas, os impropérios aos outros condutores que a envergonhavam. Nas suas mãos a condução era suave. Subiu a rampa íngreme da garagem e lentamente dirigiu-se ao centro comercial. Não tinha pressa, ia olhando as ruas desertas do bairro, onde, por uma vez, não se viam cães de trela levando os seus donos a passeio.
Junto das finanças, uma fila de homens e mulheres idosos encostava-se ao edifício, papeis na mão, de guarda chuvas abertos, pernas inchadas e bengalas e bonés. Desta vez teria de preencher a declaração sozinha. Engoliu as lágrimas e mergulhou no parque subterrâneo.
Ansiava partir.

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