Uma janela para o verão

Ela acordou, aturdida ainda pelos agitados sonhos, um mundo paralelo à sua vida vazia e sem alma. 
Mesmo antes de abrir as persianas do quarto imerso em escuridão, previu que o cinzento a esperava lá fora, espreitando por entre as altas torres e as janelas cegas dos prédios vizinhos. A primavera fazia-se esperar, tal como um amante antigo. O seu gato saltou para a cómoda e espreitou para a rua, onde a chuva caía lentamente e num salto ágil, partiu para a casa. Os seus gritos soaram alto e ela seguiu-o, de quarto em quarto, abrindo uma a uma todas as janelas fechadas. Em todas ele espreitava, esperançoso e partia. 
Em nenhuma se via o céu, o sol, o rio, as gaivotas, apenas a cidade suburbana. 
Não havia uma janela para o verão.

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