Alta definição

Estou aqui a ver o Alta Definição, a Susana Latino que parece tão divertida, está ali a contar os seus traumas de infância, o pai assassinado por engano, o chamarem-lhe gorda na escola, entrar na SIC e ser diferente das outras, ser mais gorda...

Depois vejo uma foto dela nessa altura e era uma gorda de usar o 40, já com o cabelo pintado de ruivo e não era feia. Depois o que não gosta é " bróculos e favas"....que lugar comum....

Há pessoas que vão a este programa e de quem não gostamos ou não temos opinião, e revelam-se muito interessantes. As pessoas revelam o que querem nestas entrevistas, ele mete lá umas perguntas, "ficou alguma coisa por dizer entre si e o seu pai? " e alguns desatam a chorar....

Agora está a contar que trocava as fraldas à mãe quando esta estava no hospital a morrer de cancro. Decididamente, procura motivos para se traumatizar. A minha mãe está no Lar e usa fraldas, mas vai ao WC, eu nunca lhe mudei fraldas no Lar, há lá empregadas, não?

Eu nem na psiquiatra conto coisas .... E depois de repente sou convidada a um programa destes e começo a desbobinar " não sofri de bullying na escola, mas a minha irmã é seis anos mais velha e desde que me lembro que se unia ao meu primo mais velho para fazerem troça de mim. Eu estava a ver TV no sofá e ela mandava-me sair de lá e eu não queria sair e começavamos à luta, até virem os nossos pais...." Eh, eh, até era divertido.
Depois " fui eu que encontrei o meu pai morto, fui a última a vê-lo com vida e a primeira a desconfiar que algo não estava bem. Ele tinha-se deitado para descansar depois de almoço e ia meio a cambalear, achei que era de ter bebido demais ao almoço, e saí com o namorado e quando voltei à meia noite não se ouvia ressonar como de costume e a minha mãe dormia noutro quarto e tinha depressão, mas eu não fui lá, fiquei a ver TV até às duas, era o filme " O Exorcista". Achei estranho o silêncio e fui ver o meu pai. Ele estava deitado na cama, como se se tivesse sentado na beira da cama e caido para trás."
Depois vieram a polícia e os bombeiros e ele já estava deitado como deve ser e ninguém disse que ninguém o fora ver desde as 14 h às 2h do dia seguinte. A minha mãe estava com depressão e estava mais preocupada em dormir, como eu não ia jantar, nem jantaram. Ele morreu às 14 h, disse o médico, Logo a seguir a eu sair.

Depois eu punha-me a dizer que é uma coisa que me persegue, não ter voltado atrás nesse dia, podia-o ter salvo. Mas não é, em nenhum momento achei que ele ia morrer. Eu tinha 28 anos.

O que me traumatiza, mas não ia desbobinar na TV nem sequer no psiquiatra, é as pessoas morrerem sozinhas num Lar. Por mim a minha mãe vivia comigo, com a ajuda de uma empregada diária que lhe daria banho e cozinhava e eu tratava dos chás e das botijas da noite. A neura dela nunca me aborreceu nem assustou, como à minha irmã, que detesta pessoas queixosas. Eu limito-me a ouvir e dizer que é uma chatice, ninguém percebe o que se sofre. A minha irmã e outras pessoas que nunca souberam o que é ter depressão dizem coisas como " deve sair com as amigas, irem passear, apanhar ar". Dizer isto a uma pessoa com depressão, que só lhe apetece enrolar-se num edredon e deitar-se a dormir...
Por isso vou lá ao Lar e ponho uma manta nas pernas da minha mãe e um xaile aos ombros e estou ali um bocado ....
o Johny Halliday morreu.
Tão giro que era.

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