Filhos adolescentes


Ninguém está preparado para isto. No 9º ano são assim, no 10º estão todos calados na sala de aula e se pedimos a alguém que leia o texto, ficam calados. Antes era " eu! eu! eu! ",

O mais engraçado é que os pais dizem todos que têm uma boa relação com os filhos, que são muito cúmplices. Que com eles a adolescêcia não será de rebeldia. Sim, mas a partir dos 12 normalmente, isso muda. Se os levam à escola começam a pedir para os deixarem na esquina. Não querem que os amigos os vejam a ser levados pela mão. Mesmo que sejam eles a dar a mão... Em casa continuam mais ou menos alegres e risonhos, alguns mais precoces começam desde logo a refilar com tudo ou a fecharem-se no quarto. No meu tempo era a ler, a ouvir música, agora é na net, a jogarem ou no skype com os amigos.

No meu tempo. Porque agora lembro-me que fiz tudo e mais alguma coisa que eles agora me possam fazer. Lembro-me da minha mãe me tirar a franja da cara e eu afastava-me " deixa-me!". Com ela em geral levava um " ficas tão mal assim!". Agora sou eu que afasto o cabelo comprido da filha e ela diz mais ou menos a mesma coisa, e era só um gesto afetuoso. Eu nem digo nada, mas sinto-me triste.

Eu sei que isto faz tudo parte do processo de descolamento em direção à autonomia total, mas custa-me que entrem, às vezes nem me dêem um beijo, e vão diretos ao quarto, onde daí a nada os ouço a rir, na net.

Depois lembro-me que vinha da escola, almoçava e ia telefonar à amiga , e estavamos uma hora a comentar a manhã da escola e a rir.

Lembro-me também do meu total egoísmo. Já na Fac. em vez de voltarmos para casa iamos para o Apolo 70 comer tostas mistas. Não havia telemóveis e não telefonavamos para casa. Entretanto estava a mãe da minha amiga em diálogo com o meu pai ao telefone, muito preocupada que a filha não vinha jantar. O meu pai, que já tivera uma filha seis anos mais velha que eu e que fora a percursora de tudo, dizia-lhe que deviamos estar com os amigos e já vinhamos. E vinhamos, e lá estavam eles os dois com o jantar feito e nós sem fome, e eles dispensavam perfeitamente fazer jantar e jantar, mas faziam-no por nós, e nós nem tinhamos a decência de os informar que não jantavamos.
Mas jantavamos, estavamos sempre com fome. Eles é que podiam comer uma torrada e chá e tinham o trabalho de o fazer, para nós.

Mas até os compreendo, eu agora sinto-me grata de ainda poder fazer algo por eles. Parece que é o último elo que nos une. Por isso aspiro e limpo e lavo-lhes a roupa e às vezes até cozinho. Ultimamente deixei de cozinhar. Tenho pizas e outras comidas que eles gostam e nem me mexo, continuo a ver TV. Ou então aos fins de semana vamos almoçar ao centro. Eles costumam só jantar e a filha a maior parte das vezes vai comer com os amigos que estão cá num apartamento, não são de Lisboa. Nos dias em que estão comigo, pois há os dias em que estão com o pai e aí têm de ir jantar.

Sinto-me grata das migalhas que me atiram. E só agora , que vou ver a minha mãe ao Lar e às vezes ela nem sequer fala comigo, dou valor ao que ela fez por mim. E sou eu que a abraço e beijo.

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