Do Guilherme de Por Falar Noutra coisa
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26 de junho de 2016
Brexit: o Reino Unido já não quer brincar connosco
Imaginem que tinham um amigo rico de longa data e sempre que iam jantar fora não queria que levassem os vossos amigos pobres que se esqueciam sempre da carteira. Isto era o que ele dizia porque, no fundo, ele não gostava era de ser visto com pessoas de estratos sociais mais baixos, especialmente se fossem refugiados. Num rasgo de sobranceria, esse vosso amigo envia-vos uma mensagem a dizer «Olha, a culpa não é tua, mas esta relação não está a funcionar. Vamos deixar de ser amigos, mas quando eu precisar de ti ligo-te e se por acaso passar pela Buraca e me tentarem assaltar posso dizer que ainda somos amigos?». Resumidamente, e para um leigo na política como eu, foi isto que aconteceu no Brexit. Nós, os países pobres, fomos deixados pelo Reino Unido que já se esqueceu que é o país que é porque andou a colonizar meio mundo à força do mosquete e da cruz afiada no lombo.
É aquele novo rico que se esqueceu das origens e agora diz que odeia pobres e cortou relações com todos os amigos do bairro que o ajudaram a chegar onde chegou.
Brexit parece nome de um concorrente do Imodium, algo para parar a diarreia antes que ela nos pare a nós, já que o mundo vive um grande período de diarreia mental de alguns líderes e de uma prisão de ventre passiva de quem os elege. O problema não é os britânicos terem votado para sair da União Europeia. O problema são as razões que os levaram a fazer pender o seu voto para a saída: o que começou como uma campanha política baseada na economia e no poder de decisão condicionado do Reino Unido por estar ligado à UE, dizendo que mais de 350 milhões de libras eram enviadas todas as semanas para Bruxelas quando podiam estar a ser investidas no serviço nacional de saúde, cedo passou a uma campanha de nacionalismo bacoco. Esse discurso xenófobo e racista, tão na moda, mas que nem com o sotaque posh britânico consegue parecer inteligente. Esta coisa no nacionalismo e de se valorizarem mais as linhas imaginárias a que chamamos fronteiras e a aleatoriedade e o acaso geográfico do local onde nascemos, em vez de se valorizarem os laços de ADN de uma espécie que coabita no mesmo planeta, é talvez a maior razão das desigualdades no mundo. Por isso é que de cada vez que oiço o hino sinto uma dicotomia de sentimentos: por um lado sinto orgulho e arrepia-me ver tantas vozes numa só; por outro, sinto que são resquícios de uma altura em que andámos a saquear o mundo e espetar bandeiras no quintal dos vizinhos.
Não percebo muito de política nem de economia. Não sei bem porque é que as moedas desvalorizam ou porque é que os mercados mandam nisto tudo à base da especulação. É estranho sermos uma espécie que decidiu dar valor a um pedaço de papel e fazer com que ele oscile consoante notícias e coisas que ninguém entende muito bem. Qual o impacto que o Brexit vai ter no resto da Europa? Eu sei lá! Se estão aqui à espera de serem esclarecidos sobre este tipo de assuntos vieram ao local errado. O que sei é há muitos emigrantes no Reino Unido, que tiveram de sair dos seus países de origem por questões económicas e que foram para lá trabalhar, pagar impostos, e contribuir para a sociedade porque não o conseguiam fazer na sua terra natal, e que, agora, não sabem bem o que o futuro lhes reserva porque um punhado de gente mal informada decidiu reclamar para si um pedaço de terra que não devia ser de ninguém. Como sou rancoroso acho que podemos tomar algumas medidas para nos vingarmos dos britânicos:
- Aumentar o preço da imperial para 10€ na Rua da Oura em Albufeira.
- Dar e independência à Madeira e deixar que o Alberto João Jardim seja o presidente.
- Piratear as televisões britânicas e passar em loop infinito o vídeo do Ricardo a defender o penálti sem luvas e a marcar golo.
- Não praticar o amor com inglesas bêbedas.
- Só contratar empregados portugueses que não falem inglês para os bares e restaurantes do Algarve.
Ah pois é, meus amigos, isto não pode ser só para um lado. Querem os portugueses fora do Reino Unido? Então nós vamos reclamar o Algarve para nós e, se for preciso, jogamos baixo! Vêm para cá vomitar-nos as ruas, fazer basqueiro, e matar e ocultar o cadáver dos próprios filhos? Isso é tarefa nossa! Temos muitos e bons bêbedos e pais negligentes capazes de fazer o mesmo e com mais qualidade!
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