O novo proletariado

Ok, agora se calhar já posso escrever sobre os call centers.

Enquanto estive a trabalhar naquele, naquela grande companhia estrangeira de turismo online, fui avisada que nada se poderia publicar nas redes sociais. Booking.com

Estando no desemprego, várias vezes me tinham dito para concorrer aos anúncios de call center.

Havia inbound e outbound. O inbound era receber chamadas ,por o cliente em espera, procurar as respostas e dar-lhas ou reencaminhar a chamada. Isso era cansativo e sobretudo em certas áreashavia muitas reclamações e pessoas zangadas.

 Havia outbound, que podia ser vendas e era chato, pois incomodava-se as pessoas em casa com vendas, ou podia ser bom, pois era responder por emails a questões previamente postas ou em caso de urgência, ligar.

O que era o caso da Booking, com , caso fosse para o fim de semana seguinte e fosse preciso ligar a dizer que afinal o hotel fizera overbooking mas não se preocupassem pois já lhes fizera uma pré-reserva noutro sítio.

 E eles iam ver ao site  e diziam que não, que queriam double bed, não duas camas separadas, queriam piscina e no outro não havia, etc, e a customer service representative ( a assistente de call center ), dizia que mandava um email com outras propostas melhores. E ia procurar ao mesmo site onde o cliente reservara, e mandava-lhe as propostas e ele é que tinha de fazer as reservas, e ela é que tinha de anular os quartos depois de avisar o hotel e verificar no sistema que as reservas novas estavam feitas. Tudo isto em francês com o cliente e em inglês geralmente, com os hoteis.

OK, eu respondi a isto, afinal tenho 52 anos e falo francês, o que é raro neste país, excepto nos filhos dos emigrantes que voltaram a Portugal. E são muitos. Passei nos testes todos, escritos e falados (ao telefone) , sobre IT e customer service (em inglês ). Acho que são standard para aquela empresa.

Entrei e ao princípio era realmente só outbound. lidar com uma lista de casos e telefonar a confirmar.
Depois começaram com inbound de manhã, 4 h a reber chamadas sem parar, a por gente em espera para falar a hoteis que nos punham em espera e se esqueciam de nós e depois o cliente desligava.

As quatro horas de tarde eram para outbound.

E estava lá há quase três meses quando me dizem , numa sala à parte, que não me vão renovar o contrato. A minha chefe disse que não era nada contra mim, mas que eles preferiam nativos, que falavam mais fluentemente francês, que eu era muito simpática e assídua e pontual, mas não atingia os níveis que se esperariam de mim nesta altura (não sei porquê, pediram 6 casos por hora e eu fazia sete). Que ainda dava erros em alguns casos. Pois....mas aquilo é revisto por seniors, não passa assim.

Eu disse que ficava enervada quando o outro se punha atrás de mim a ver o que eu fazia e escrevia mais devagar para não me enganar (era um que era floor walker e parecia que andava a vigiar os presos). Enfim.

Bem, como a época alta vai começar e aquilo vai ficar caótico com turistas a fazerem reservas e hotéis a desmarcarem e a deixarem-nos em espera, deixá-lo, eu também era a mais velha que lá estava na linha e a única portuguesa ( a outra licenciada em francês que entrou comigo pirou-se quando embirraram com a pronúncia francesa dela), que se lixe.

 Pagavam, 3 euros por hora, mais 300 euros por ser em francês, (era mais 400 se fosse alemão), mais seis euros de subsídio de almoço, mais 75 euros de bónus.

O contrato era renovado mensalmente, com quinze dias de antecedência de aviso (recebi a carta ontem), os dia de folga não eram pagos e trabalhava por turnos, ou seja, aos fim de semana e feriados.

Que eram pagos metade em horas extraordinárias e metade em horas a mais, para amealhar para folgas.

O horário eram oito horas, na realidade nove, pois a hora de almoço não era incluída. Das 8 h ao meio dia. Almoço, depois das 14 h às 18 h ( 2 pm às 6 pm). Uma pausa de dez minutos a meio da manhã e outra de tarde da tarde.

E subsídio de natal e de férias. OK, o dinheiro depois limpo eram 850 euros. Suados.

Sim, é o novo proletariado. E preferem os mais novos. Há muito e podem sempre mandar embora e contratar outros sem escrúpulos. Custa-lhes mais quando é uma divorciada com dois filhos.


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