A minha mãe faz anos
A minha mãe faz 89 anos hoje e eu fiz 52 este ano. E a minha filha tem 18. Não gosto de fazer contas , mas ela teve-me aos 37 anos, eu tive a minha aos 33. Não sei como ela ( e o meu pai ) tiveram paciência para mim e as minhas maluquices dos 16, 18, 20 anos. Até aí até fui bem comportadinha e era despachada nas férias para o Vale, onde fazia o que podia com o auxílio dos primos de lá, tipo ir de camioneta para o Marco e ir para o café, ver os rapazes. Grande coisa, nem fumávamos, nem bebíamos, ficávamos ali na risota....E de volta vínhamos com o pai da prima, que trabalhava na Câmara.
O meu passado sofreu a influência sobretudo das avós, ambas domésticas e donas de casa e muito exigentes com as suas empregadas. Ensinaram-me a fazer biscoitos e bolinhos, e tinham sempre gatos pequenos para eu brincar. A maior parte das minhas tias também não trabalhava, mas sempre valorizei o seu trabalho doméstico, e as suas opiniões. Os tios ou eram distantes e nem me dirigiam a palavra, ou paternalistas. Claro que adorava o meu pai, até me dar a “ rebeldia adolescente “ e como ele era o único a dar-me resposta, coitado. A minha mãe, depois de ter a experiência da minha irmã, já tinha aprendido a não ligar, nem dar resposta e juro, que sempre que ela me repreendia, eu ficava muito mais sentida e arrependida do que com o pai.
Depois quando pensei numa profissão, foi como um complemento de ser dona de casa. Professora parecia-me bem, na altura era quase um part-time, aulas de manhã ou de tarde, e tinha a parte criativa, do planeamento. Mas era demasiado nova, quando comecei , e embora não tivesse grandes problemas com disciplina (comecei logo com os secundários e fazia testes difíceis), comecei a achar que era uma terrível rotina, ano após ano a ensinar as mesmas coisas ! Já sabia as farsas do Gil Vicente de cor ! Se tivesse dado inglês, talvez fosse diferente.
Ainda experimentei outras coisas, explicações, assistente no aeroporto, e até gostei, mas era género, pronto, se tenho de trabalhar, ao menos que aplique o que estudei e sempre ganho melhor. Depois quando casei, tive o que sempre quis, os filhotes, a casa para gerir. Achei que a carreira podia ficar para depois. E é tão bom ser mãe. Para quem tem os instintos claro. Muita gente “ enlouquece “ fechada em casa com seres que não podem responder e choram. Mas é uma fase que passa e eles crescem e é nessa altura que eles entram na escola e teoricamente, devia ter recuperado a carreira. Mas nessa altura achei que tinha descoberto a minha careira, “ gestora doméstica “. Que em muito países, até do primeiro mundo, é a escolhida por muitas mães. E tendo eu o exemplo das pessoas que me eram mais queridas da infância...
Enfim, cada um faz o que bem quer, podia ter tido como exemplo a minha tia Nélis, que sempre trabalhou e teve um filho ( como a minha irmã fez ) e um casamento feliz. Mas não era a minha tia preferida. Seria incapaz de deixar o filho seis meses com os pais e ir para Paris com o marido, como ela fez. Quando voltaram, nem sabia quem eles eram.
Resumindo, ser mãe é bom e estou contente de ter mãe e compreendo-a muito melhor agora e oxalá ainda tenha forças para educar netos e dar-lhes gatos para brincar. A carreira, ficou para trás , mas quando vai morrer, não são os dias passados no escritório que recordamos.
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