Morreu a autora de Adrian Mole

Já li e reli " Os Diários de Adrian Mole ", os primeiros quando saíram e os outros à medida que iam saindo. São de Sue Townsend que faleceu recentemente, aos 68 anos.

Escritora inglesa de Leicester, foi mãe de quatro filhos e assistente social. O seu primeiro livro foi escrito aos 37 anos e meio ( como ela dizia ) e era o diário de um rapazinho, Adrian Mole, de 13 anos e meio. É uma crítica hilariante dos anos de crise e despedimentos da Grã Bretanha, anos 80, visto pelos olhos de uma criança que só está preocupada com as suas borbulhas e o crescimento do seu pénis. Adrian vai-se relacionando com os vizinhos, de classe média baixa, os idosos que vivem abandonados ( como parte de educação cívica cada um tem de servir a comunidade e a ele calha-lhe um irascível velhote, com uma casa imunda e um feroz pastor alemão ) , os professores, à beira de um ataque de nervos.

Comprei, sem saber que morrera, o último livro, " A Mulher que decidiu passar um ano na cama " , e hesitei antes de o ler, parecia-me deprimente. E é, mas ela tem uma escrita muito culta e fácil e lê-se com interesse. Parece um pouco autobiográfico, mostra uma mulher de 50 anos que vive com um marido que não ama e dois filhos de 17 anos, se dedica à casa , jardim e família. É inteligente, bonita e sensível, foi bibliotecária até se casar com um astrónomo e ter dois filhos gémeos, um rapaz e uma rapariga, génios da matemática. O rapaz herdou a beleza da mãe e é irresistível mas muito introvertido, a filha é morena e peluda como o pai.

No dia em que " despacha " os gémeos para a universidade, deita-se na cama vestida, enrola-se no edredon e decide não sair mais daí ( só para ir à casa de banho, no quarto ). Expulsa o marido do quarto, e quando ele a meio da noite se tenta lá enfiar ela sem querer e assustada dá-lhe um pontapé com os saltos altos e espeta-lhe o salto do sapato na perna. Enquanto ele saltita a pedir que ela vá buscar água oxigenada, algodão, ela simplesmente esguicha-lhe Chanel nº 5 na perna ( para desinfectar ) e volta a dormir. Outro exemplo do humor da autora :
" - O que é que fizeste às minha camisas limpas?
- Entreguei-as a uma lavadeira que estava de passagem - respondeu Eva - Ela vai lavá-las a um riacho murmurante que conhece e esfregá-las nas pedras. Deve entregá-las lavadas na sexta feira.
Brian, que não estava a prestar atenção, disse :
- Sexta feira ! Isso não me serve de nada, preciso de uma agora !
Eva virou-se para a janela. Algumas folhas douradas caíam em espiral do sicómoro do lado de fora.
- Não tens de usar uma camisa. Não é condição imposta pelo teu emprego. O Professor Brady veste-se como um dos Rolling Stones.
- É uma vergonha - retorquiu Brian. - Na semana passada recebemos uma delegação da NASA. Todos eles usavam blaser, camisa e gravata e foram recebidos pelo Brady com as suas calças de cabedal que fazem barulho quando anda, uma t- shirt do Mestre Yoda e botas de cowboy ! Com o salário que ele ganha ! Malditos cosmologistas, são todos iguais. E quando estão juntos na mesma sala é como uma reunião de um programa de reabilitação para toxicodependentes ! A sério. Eva, se não fôssemos nós, os astrónomos, eles estavam feitos !
Eva virou-lhe as costas (....) Ia pedir à sua mãe sem formação que ensinasse o Dr. Brian Beaver, que tem os graus de bacharel, mestre e doutor ( Oxford ) , a manipular os simples botões da máquina de lavar "

Depois o livro conta a vida dos gémeos na faculdade, do marido, que afinal tem uma amante há dez anos e de várias pessoas que a vão visitar, como se ela fosse uma santa ou um guru, pois aparece no jornal e depois na internet.
E como tudo termina, depois de uma ano na cama.

" I always depended on the kindness of Strangers " - Um Eléctrico Chamado Desejo

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