Coração partido

Estava cheia de dores de cabeça. Sempre que se irritava, a tensão subia. E vinham as enxaquecas. O médico já lhe dissera que deveria repensar a sua opção de carreira, ser professora não lhe fazia bem à saúde.
Mas desta vez não tinham sido os alunos e sim a filha adolescente. E pela primeira vez tinha dito, em voz calma " se isto continua assim, vais para casa do teu pai, tal como está no acordo. se não me respeitas e abusas da minha paciência e bom feitio, se continuas com essa arrogância e a ignorar tudo o que peço que faças, eu não te posso ter aqui.". A filha respondeu arrebitada que o irmão era o santinho e que só embirrava com ela. " O teu irmão faz o que lhe digo e diz por favor e obrigado. Não me grita ordens como tu ". Mas tu gozas comigo e com ele não. " Desculpa se gozo, é o meu modo de não te dar um estalo....".
E isso era verdade, herdara do pai, ou copiara do pai, que recorria ao sarcasmo, quando a sua irmã mais velha o desafiava. Até o aborrecer realmente e ele se pôr aos gritos....
Mas ela nesse lado saia à mãe. A mãe sempre as dominara com uma espécie de chantagem emocional, e se dizia não, era não mesmo, sem gritos. " Estou muito triste contigo, nunca pensei ouvir isto da minha filha...." e retirava-se, e ela ficava a chorar, arrependida. E pedia desculpa.
A filha também lhe pediu desculpa e disse que não voltava a acontecer. Ela disse-lhe " E arruma o quarto. E este fim de semana, não faças planos, não vais a lado nenhum ".
Foi para o quarto e lembrou-se de quando a deixara pela primeira vez no Jardim infantil, com ar triste, num canto. Chorara todo o caminho de volta a casa. Em casa o irmão perguntava pela mana e ela ainda chorara mais....
Estranho, como só os que que amamos nos quebram o coração.