O Caso das Botas Desaparecidas

Fui ao lar às 16h 30, hora do lanche, ver a minha mãe. Amanhã vou pôr o carro na oficina, nem sei se me dão veículo de substituição, por isso fui hoje, com a chuva ininterrupta.
No corredor encontro a Cândida, já falei dela, aquela senhora cabo verdiana,  a minha mãe esteve uns tempos no quarto dela, quando a outra senhora morreu. Pois a Cândida fala crioulo e deve ser a única negra ali (além das auxiliares ), tem 60 , só tem um rim e faz hemodiálise três vezes por semana, no hospital. A minha mãe disse que se calhar também devia fazer, fazia pouco xixi....
 Não percebo nada do que diz, mas cumprimentei-a e ela diz-me " Gabriela, tiraram-me as botas...." e eu " Ahn ? ". " Ah pois, que chato ....".
Bem, vou para a sala do lanche ver a minha mãe e estava lá a outra senhora, que vai visitar o marido todos os dias, e eu lá lhe disse " A Cândida sabe o meu nome, falou-me das botas....? ". " Sim, as da sua mãe, não se lembra que lhas deu ? Depois tiraram-lhas, eu já lhe trouxe umas que eram minhas mas ela não gosta delas ." Lembrei-me, uma das enfermeiras perguntara-me se as dava à Cândida, que ela não tinha nenhumas e no inverno vinha toda molhada da hemodiálise . Eu disse que sim claro, perguntei à minha mãe se lhas dava e ela " que botas ? dá lá as botas...". Bem, isto foi em agosto. Acontece que depois quando se mudaram as coisas do quarto outra vez para o dela, a minha irmã é que estava lá e disse que as botas eram da minha mãe. E ponto final, parágrafo.
Liguei imediatamente à minha irmã, nem se lembrava de nada, ah sim, tinham dado à outra mas eram da mãe. Mas fui eu que disse que lhas dessem. Mas a mãe precisa de botas se por acaso for ao médico. Mas eu levo-lhe outras, ela tem mais botas, a Cândida gosta das botas e não tem nenhumas. Faz o que quiseres....
Lá vou eu buscar as botas, umas botas grosseiras aerosoles pretas de biqueira quadrada, de salto raso de borracha (nunca vi a minha mãe com tal coisa nos pés ) , a perguntar pelo corredor fora qual era o quarto da Cândida, e as auxiliares diziam " as botas ! vai-lhe dar as botas ! " e eu já me sentia o Brian ( The Life of Brian, Monty Python " )....Cheguei ao quarto, um bom quarto, só dela, estava a ser penteada por uma enfermeira negra, e disse logo " Nhas botas ! ".  Bem, a história das botas era famosa, ela só queria aquelas botas, senão ia de sapatos. Calcei-lhe as botas e ficam-lhe perfeitamente, o sorriso dela era enorme e disse qualquer coisa que a auxiliar me traduziu, abençoou-me com tudo de bom e mais os meus. Abracei-a e perguntei se ela tinha falta de roupa de inverno, parece que não tem muita, estava com uma camisola roxa e calças leggings castanhas muito feias. Tenho uma parka dourada que ela deve adorar, e vou ver se tenho algo mais alegre para ela vestir.

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