Indisciplina na sala de aula


Vem como uma onda, vai enchendo. As vagas começam por ser ondulações, vamos vogando, e à sétima onda vem a gigante.
Não é que se tenha medo, mas tudo é intimidante. São corredores compridos com salas de ambos os lados e miúdos a empurrarem-se, lutarem, auxiliares aos gritos e nós com o livro de ponto e saco na mão à procura dos nossos. Alguns professores são dos de núcleo duro e vão gritando "páras com essa bola! Ficas sem ela!" a alunos que nem são deles.
Hoje comecei às dez e já estavam muito acordados, pensei que estariam mais sossegados. Já ía equipada de folhas de exercícios simples de revisão, e resolvera cortar na chamada e apresentação. Limitei-me a mandá-los sentar. Primeiro erro. "Sentamo-nos como na aula de inglês?". Sim. Estúpida! Havia uma planta traçada pela directora de turma deles, que separara os faladores e pusera outros à frente. Assim ficaram com os amiguinhos. Depois lá começa, que já deram aquilo (a lição que eu preparara), saco da ficha de revisões e mando fazê-la, para entregar, e conta para nota! E lá estão os minutos de silêncio, e devagar começa a parvoíce, de um lado empurram-se, do outro roubam o estojo às colegas. "Quietos e calados!" e um pouco de calma e depois querem ir à casa de banho, depois um chama com uma pergunta e do outro lado vêem os cromos da seleção. Há outros que nem fazem a ficha. Já farta daquilo mando um ao quadro fazer a correcção, e depois outro, e são os mais pequenos que se oferecem para o fazer... Não concordo nada com esta mistura de idades, repetentes com crianças... E são 90 minutos!
E um quarto de hora de intervalo e mais 90 minutos com outros 25, 27, e outro intervalo com 15 minutos e mais 90 minutos. Há lá várias profs que falam comigo, "ah essa turma, era eu que estava a fazer a substituição, muito difícil...." Essa das substituições é outra. Se o professor falta porque não os deixam estar na sala deles a jogar ping pong? Afinal, muitos não passam de crianças, e estão ali de manhã e de tarde! Ninguém aguenta mais de 20 minutos de preleção.
E os jogos resultam pouco melhor. Com um quinto ano resolvi jogar à forca com palavras em inglês e dividi-os por filas, mas pegaram-se aos gritos sobre quem dissera primeiro e batota...
O momento alto foi sem dúvida o rádio gravador de cassetes. Num sexto ano de matulões multiculturais, decido pôr a cassete audio da Unidade 8. Dizem que já ouviram. Procuro a 10, mas atrapalho-me com os botões e carrego na rádio em vez de no tape. Começa qualquer coisa aos berros, e eles logoa dançar " deixe estar stora!". Olha, eu até deixava.afinal era em inglês. Mas se calhar estão a pagar para eles estarem sentados e sossegados.

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