A Morte aos poucos

Estava a ver o novo programa de Cesar Milan. agora no novo centro de recuperação de cães, em Espanha. Ele trabalha com os canis, arranjam um cão difícil de adoptar, ele recupera-o, um pouco, e três candidatos concorrem à sua adopção. Deve ser no sul de Espanha. Este episódio já o tinha visto e quem fica com o cão é um homem de 48 anos cuja cadela de doze anos morrera há pouco. Éle é solteiro, é comovente ouvi-lo falar da cadela, de como davam passeios nos bosques perto de casa (Itália) . O próprio Cesar perdeu o seu cão, divorciou-se e mudou-se para Espanha, com uma nova mulher. E o filho mais novo. Acho que era o cão e os filhos pequenos que o mantinham naquele casamento. Mas é uma ideia simpática, para um programa de animais.
Eu penso que os animais são bons também, para relacionarem as crianças com a morte. Um rato , por exemplo, vive no máximo dois anos. Acho que foi a primeira vez que o meu filho viu algo, de que gostasse, morto. Deram-me o rato muito pequeno, só fiquei com ele pois esse amigo criava-os para os vender às lojas de animais, para os donos de cobras.... Lá vim eu com um rato cinzento numa caixa, comprámos uma gaiola, ele tinha  uns dez e ela doze, e faziam labirintos com blocos a ver se ele dava com a saida. Também se tornou um bom entretém para a gata, que não sabia bem o que ele era, e o tentava apanhar quando saia da gaiola. Ele esticava-se todo na gaiola quando nos via, queria sair. Nunca cresceu muito, não era uma ratazana, e deitava-se no meu pescoço a ver as vistas. Até que um dia, cheguei à gaiola e o vi completamente esticado. De onde vem a expressão " esticou o pernil ".O meu filho veio logo a seguir, por isso não tive de tomar a decisão de o esconder e desatou a chorar, eu também. A filha não, mas participou no enterro, descobrir uma caixa de papel, forrá-la de algodão, deitar o rato, fechar com fita adesiva. E eu fui depositar no lixo lá fora, o lixo das cozinhas.
Aqui na nossa cultura, não escondem as crianças dos funerais, levam-nas às capelas onde o morto está no caixão destapado, e as pessoas a velarem o corpo. Para as pessoas sensíveis é um choque, não se pensa "foi para um mundo melhor, o que aqui está é um corpo, sem alma ". Embora um morto pareça um objecto e não um ser, para nós é um choque ver alguém, que se viu anteriormente vivo, agora ali. Desde que vi a minha avó, aos 11 anos, nunca mais quis ir a funerais. Fui recentemente ao de um tio, e consegui estar na capela, achei até estranho as pessoas falarem de costas para o caixão, de certa forma naturais e alegres, de verem pessoas que não viam há muito.
Já assisti entretanto a muitas mortes de animais de estimação, ratos, peixes, gatos, cães e tartarugas. Pode ser que me familiarize com a morte, como um natural final de ciclo.

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