Pais Amadores e Profissionais


No consultório, ou na minha irmã, já nem sei (sim, que eu não compro revistas), li um artigo, talvez na Sábado, sobre um inquérito feito a crianças americanas sobre a mãe perfeita. Para a maioria a mãe perfeita (pai?) "levanta-se às sete horas e leva-as à escola" - check- "depois da escola está com eles a fazer os deveres" - check- "brinca com eles em casa" - check- "leva-os a passear na rua pelo menos uma hora" - check- "dá-lhes a comida e faz bolos com eles"- check.
Ou seja, querem companhia as 24 h por dia, ou o tempo que estão em casa. É o que eu chamo pais profissionais, ou seja eu e todas as mães desempregadas que conheço, ou mães solteiras que saem do emprego a correr (prejudicando a carreira), para irem buscar os filhos às escolas às 5 h.
Acho perfeitamente justo. Acho até que nos deviam pagar, o Estado por exemplo, para criar os filhos em vez dos avós, dos ATL e das actividades extra-curriculares. Sem falar das crianças que a partir do 5º ano, vão para casa sozinhos e por lá ficam, até os pais chegarem, às sete.
Claro que a seguir vem a opinião de uma psicóloga (portuguesa) a dizer que isso é tudo errado, e que ficam superprotegidos e vão ser uns falhados na vida. Que o que realmente precisam é de pais que trabalham e lhes dão tempo de qualidade , 20 minutos de atenção exclusiva, quando chegam do emprego. Que esses sim, não prejudicam a criança. Para mim esses são os pais "amadores", que chegam cansados, querem relaxar, e têm a criança aos saltos à volta deles a pedirem atenção. Que têm que fazer o jantar e conversar ao mesmo tempo com os filhos sobre tudo o que eles querem contar. Que ao fim de semana perdem a cabeça facilmente com as suas "criancices" nos restaurantes e centros comerciais onde os levam a passear. E que os enchem de brinquedos por complexos de culpa e para que brinquem sozinhos e os deixem sossegar.
Os miúdos que têm alguém com eles o dia inteiro, não estão "a levar mimo" o dia inteiro. Ao contrário do que se pensa, a pessoa que fica em casa tem muita roupa para tratar, muito lixo para arrumar, muita coisa que comprar e a criança sente-se satisfeita em saber que ela está ali, a aspirar-lhe os hotwheels e entupir o aspirador, a dar-lhe uns berros quando entorna o Nesquik no tapete e a limpar, a levá-la ao supermercado e na volta passar pelo parque infantil. Porque é criança e precisa de atenção. Basta ver os documentários sobre animais na National Geografic.
Enquanto não são autónomos, a mãe toma conta das crias. As crias que são desleixadas morrem.
Parece aquele história de antigamente, em que os bebés deviam ser deixados na sua cama a chorar, até se calarem, que é para aprenderem que a vida é dura. Depois nos anos sessenta chegou-se à teoria contrária, que ao serem pegados ao colo se tornavam mais calmos e de futuro crianças com mais auto-estima e seguros de si.
Agora para mim a questão é, a partir de que idade se podem largar no mundo? Segundo o estado, é com 10 anos, no 5º ano, as aulas acabam às 14 h, 16 h, e vão para casa. Não há outra hipótese a não ser pagar os tempos livres (nos colégios, nos ATL) ou deixá-los ir para casa.
Tenho amigas que lembram com horror esses anos, em que saíam a correr da escola com medo de serem assaltadas e se íam fechar em casa, até as mães (divorciadas) ou os pais (que trabalhavam) chegassem, que faziam os TPC sem ajudas, e tremiam quando lhes tocavam à porta. Eu também voltava a correr para casa, mas tinha companhia, da mãe que não me ía buscar nem levar a nenhum lado pois não conduzia, e eu tinha autocarros, ora, e que embora estivesse já a pensar no jantar me dava uma ajuda nos TPC se eu precisasse.
Se eu sou uma falhada? Não sei, mas a minha irmã saiu-se bem. E os meus filhos parece que também. A ver vamos.

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