Professores
Maria Rosa Colaço, falecida em 2004 , foi professora, jornalista, viajou por vários países, na Europa, África. Segundo dizem os filhos, ficou sempre marcada pela primeira turma a que deu aulas, crianças sem nada, mas com grande vontade de aprender. Gostavam de escrever poemas e com eles fez uma exposição, ilustrada por pintores contemporâneos e editou-os em livro.
Na introdução do livro diz:
(...) A escola que me deram, não era um desses poéticos lugares, brancos e cheios de flores com que sonhamos no fim do curso: era um velho primeiro andar, de uma rua suja de sal, pregões e humidade. Os rapazes que me deram, também não tinham nada de comum com esses meninos de bata branca, normais nos primeiros dias de aula e que as mãezinhas nos entregam como se fossem porcelana.
Lembro-me do nosso primeiro encontro, tão comovidamente, que receio não encontrar a palavra exacta para o esboçar.
Abri a porta e eles entraram.Eram quarenta e cinco e faltavam carteiras. Faltavam muitas carteiras, mesmo quando os sentei a três e três e pus cinco na mesa que me destinaram parasecretária. O director chegou e disse: Este é o seu reino e aqui tem os seus meninos. E sorria. Se tiver sarilhos - há-de tê-los,mas não estranhe - a esquadra da polícia fica ao fim da rua. E eu , estou aqui ao seu dispôr. Para as suas necessidades imediatas tem isto. Tem de escolher desde o início: ou a Senhora ou eles. Sem complacências, se quiser sobreviver. Lamento dar-lhe a escória. Mas paciência. (...)
Olhei-os em silêncio, um por um. Longamente. Depois peguei na régua que o director me dera e dei-a ao que me pareceu mais velho - Toma! Vai atirar fora. Depois não sei o que lhes disse. Mas a fome de ternura era neles como o sol, a chuva e o desconforto. E como eramos primários, pobres e sozinhos, estabelecemos desde aquela hora, um entendimento lúcido e discreto."
Na introdução do livro diz:
(...) A escola que me deram, não era um desses poéticos lugares, brancos e cheios de flores com que sonhamos no fim do curso: era um velho primeiro andar, de uma rua suja de sal, pregões e humidade. Os rapazes que me deram, também não tinham nada de comum com esses meninos de bata branca, normais nos primeiros dias de aula e que as mãezinhas nos entregam como se fossem porcelana.
Lembro-me do nosso primeiro encontro, tão comovidamente, que receio não encontrar a palavra exacta para o esboçar.
Abri a porta e eles entraram.Eram quarenta e cinco e faltavam carteiras. Faltavam muitas carteiras, mesmo quando os sentei a três e três e pus cinco na mesa que me destinaram parasecretária. O director chegou e disse: Este é o seu reino e aqui tem os seus meninos. E sorria. Se tiver sarilhos - há-de tê-los,mas não estranhe - a esquadra da polícia fica ao fim da rua. E eu , estou aqui ao seu dispôr. Para as suas necessidades imediatas tem isto. Tem de escolher desde o início: ou a Senhora ou eles. Sem complacências, se quiser sobreviver. Lamento dar-lhe a escória. Mas paciência. (...)
Olhei-os em silêncio, um por um. Longamente. Depois peguei na régua que o director me dera e dei-a ao que me pareceu mais velho - Toma! Vai atirar fora. Depois não sei o que lhes disse. Mas a fome de ternura era neles como o sol, a chuva e o desconforto. E como eramos primários, pobres e sozinhos, estabelecemos desde aquela hora, um entendimento lúcido e discreto."
Comentários
É muito comovente e apesar de tudo actual. Foi uma professora que marcou os seus alunos, fazia passeios com eles e incentivava a criatividade,mesmo sendo exigente, como se vê nos comentários dos ex alunos (blog do a.j).